“Nem sempre as histórias que precisam de ser contadas são felizes e já antevemos pelo título desta peça que vamos assistir a uma tragédia.” Quem o afirma é Telmo Fernandes, investigador de questões LGBTQ na juventude, a propósito de O Pecado de João Agonia, espetáculo que se estreia na próxima quinta-feira, dia 11 de novembro, às 19h00, no Teatro Carlos Alberto (TeCA), e que conta com encenação de João Cardoso, diretor artístico da companhia ASSéDIO.
Volvidos 60 anos sobre a sua publicação, e sobre a sua censura, esta história trágica passada num “lugarejo serrano e primitivo” de um “Portugal salazarento” encontra ainda um reflexo no país dos dias de hoje. O seu autor, Bernardo Santareno, um dos maiores dramaturgos portugueses, fazia desta, assim como de outras suas obras, uma forma de resistência e crítica à “norma” e aos bons costumes impostos pela ditadura.
A estreia de O Pecado de João Agonia marca assim um reencontro de João Cardoso com a obra de Bernardo Santareno. O caminho do encenador cruzou-se pela primeira vez com a obra do dramaturgo quando em 2017 estreou, no São João, A Promessa. Tal como naquela peça, em O Pecado de João Agonia, o público volta a deparar-se com a repressão sexual, das personagens femininas e masculinas, os preconceitos da sociedade e os dogmas da religião.
Mas se em A Promessa se abordava a castidade, agora João Cardoso leva ao palco do TeCA a temática da homossexualidade. Regressado de Lisboa – a grande metrópole, especialmente para um jovem do interior da década de 60 – a “um apertado círculo comunitário”, após ter cumprido serviço militar, João Agonia, nome que Santareno não deixou ao acaso, vê o seu pecado “desvendado” após uma “denúncia” de um vizinho. Por “amor”, para que não restassem dúvidas da masculinidade dos restantes dos Agonia e para limparem o seu bom nome, o destino de João foi traçado pelos elementos mais próximos da sua família.
A apresentação de O Pecado de João Agonia sublinha ainda o retorno aos palcos do Teatro Nacional São João de Benedita Pereira, depois de Comédia de Bastidores, em outubro de 2020, do encenador João Cardoso, que veste a “pele” do tio da personagem principal, ou do ator João Castro.
O espetáculo vai estar em cena até ao dia 21 de novembro, podendo ser visto de quinta-feira a sábado, às 19h00, e ao domingo, às 16h00. A récita de dia 14 de novembro terá tradução simultânea em Língua Gestual Portuguesa, estando ainda agendada uma Conversa com o Mestre, uma atividade orientada por Luís Mestre que visa estabelecer uma ligação entre o público e o que foi assistido em palco. O preço dos bilhetes é de 10 euros.