O cancro da próstata é sempre uma patologia assintomática numa fase precoce do seu aparecimento, mas o surgimento de alguns sintomas pode acontecer numa fase de doença já avançada. Não há uma idade específica para este problema, embora seja recorrente desenvolver-se após os 65 anos.
Apesar da idade “normal” do aparecimento desta doença ser após os 65 anos, nada garante que não possa surgir antes. Desta forma, o acompanhamento deve ser feito a partir dos 50, ou no caso dos principais fatores de risco comprovados para o cancro da próstata (a história familiar e a origem étnica), deve-se procurar o acompanhamento desde os 40 anos.
De acordo com o urologista José Sanches Magalhães, fundador do Instituto de Terapia Focal da Próstata, “deve ser proposta a hipótese de deteção precoce do cancro da próstata a todos os homens entre os 40 e os 50 anos, bastando para tal a realização de análise ao sangue: o teste do PSA (Antigénio Específico da Próstata – Prostate Specific Antigen), especialmente aqueles com familiares diretos com cancro da próstata”.
Um valor do Antigénio Específico da Próstata (PSA) aumentado implica o despiste de cancro da próstata, no entanto, além do cancro, existem outras variantes que podem ser responsáveis pelo resultado, tais como prostatite (aguda ou crónica), infeção urinária, retenção urinária, aumento benigno da próstata (HBP) ou realização de uma endoscopia, biópsia ou cirurgia da próstata. Assim, apenas se confirma o diagnóstico com uma biópsia positiva para células malignas.
PSA elevado
Historicamente, para valores de PSA elevados, realizava-se a Biópsia Prostática Transrectal Aleatória (com 6 a 12 fragmentos). Mediante os resultados, podia-se avançar para Cirurgia ou Radioterapia. Nos tempos que correm, para valores de PSA elevados, realiza-se a Ressonância Magnética Multiparamétrica, de forma a auxiliar a Biópsia Transperineal de Fusão.
No caso da Ressonância Magnética Multiparamétrica, este método permite localizar com elevada fiabilidade o local do(s) tumor(es). Quando o seu resultado é normal, é muito pouco provável a existência de Cancro da Próstata clinicamente significativo ( valor preditivo negativo na ordem dos 95%).
No caso da Biópsia Transperineal de Fusão, esta metodologia utiliza um sistema tipo matriz com intervalos de 5 milímetros, o que permite não só uma localização tridimensional precisa, mas também uma classificação perfeita, uma vez que se baseia num sistema de realidade aumentada em que a imagem da Ressonância Magnética Multiparamétrica é sobreposta na imagem ecográfica em tempo real. Pelo facto de não ser transrectal, a taxa de infeções é praticamente nula. Mediante os resultados, assim como no método clássico, pode-se avançar para Cirurgia, Radioterapia, Terapia Focal ou Vigilância Ativa.
Biópsia da Próstata – Quando devo fazer e como?
Em homens que não tenham qualquer tipo de sintomas, com um nível de PSA de entre 3 a 10 ng/mL e um DRE normal, deve ser repetido o teste PSA antes de ser realizada investigação adicional. Se o novo PSA ainda estiver elevado, realiza-se uma ressonância magnética ou recorre-se à calculadora de risco para indicação de biópsia.
Se a biópsia for considerada, a ressonância magnética pré-biópsia é obrigatória. Se a ressonância magnética for positiva (PIRADS>=3), deve ser realizada uma biópsia dirigida/fusão e sistemática. Por fim, realiza-se a biópsia de próstata, usando a abordagem transperineal, devido ao menor risco de complicação infeciosa.
Quais são os procedimentos do tratamento?
“Enquanto as terapias radicais, como a prostatectomia radical ou a radioterapia, têm efeitos secundários muitas vezes irreversíveis, a terapia focal tem a vantagem de preservar as funções urinária e sexual, para além de ser uma técnica minimamente invasiva e com uma recuperação muito rápida”, explica Sanches de Magalhães.
Atualmente, muitos tumores são tratados adotando uma estratégia focal: mama, rim, por exemplo, onde a recuperação pós tratamento é feita de forma muito mais rápida e com efeitos secundários praticamente inexistentes. A eletroporação irreversível, também conhecida por Nanoknife, é posta em prática com base na fusão das imagens de ressonância magnética e ecografia e que preserva as funções urinária e sexual.
“Saídos de uma pandemia, em que os cuidados de saúde foram adiados ou até passados para segundo plano, é mais do que nunca, de extrema importância, alertar para a importância da prevenção do Cancro da Próstata. É o mais frequente no homem, no nosso país, e onde o seu diagnóstico precoce pode ser decisivo para ultrapassar a doença”, chama a atenção Sanches de Magalhães.
O Cancro da Próstata, a doença mais frequente do homem, em Portugal, revela uma necessidade urgente de se realizarem diagnósticos precoces. Apesar dos dados mais recentes indicarem que existem mais de seis mil novos casos por ano, inclusivamente acima do cancro do cólon e reto e do pulmão, as taxas de sucesso do tratamento são elevadas, comparativamente com outros tipos de doença oncológica.